E quando páras?

É manhã, de dia, o tempo já começou a correr e tu estás aí ainda, a olhar sabe-se lá para onde. Fixas um ponto, depois outro, a tentar focar a tua visão em algo que seja, mas nada te prende o olhar de forma a que o consigas ajustar à claridade que já entra pela janela. Bocejas e levantas-te, melhor, mais correcto, sentas-te na beira da cama. Olhas por cima do ombro e só vês os números vermelhos do relógio, mas não te apressas, há tempo! Haverá?

Levantas-te e vais tratar da tua beleza única. O tempo acelera, quando voltas já estás mais que acordado, já consegues saltar, correr, tudo, estás pronto para sair porta fora e ganhar o dia… mas… ninguém sai sem comer primeiro! Fazes a sandes, aqueces o leite, nisto já tens o almoço na mochila, esqueceste-te do lanche da manhã, mas vais-te lembrar antes de saires porta fora.

Não sais sem apalpar os bolsos, não falta nada, talvez te falte juízo apenas, mas nesse caso específico não podes fazer nada para melhorar. Lá fora só sabes que vais encontrar o tempo que viste pela janela, mas não te preocupas, chova ou faça sol sais desprotegido, venha o que vier a volta se há-de dar.

Puseste pés ao caminho, as horas já apertam, o dia já começou e não vai parar para esperar por ti, ou lhe apanhas o ritmo, ou como costumo dizer, “já foste! Boa noite!”. Mas calma que ainda nem ao meio dia chegámos, na verdade ainda só passaram quarente e três minutos desde que te levantaste da cama.

Nisto vais pelo caminho do costume, nada de novo, talvez mais carros, talvez mais frio, talvez muito sol, mas isso é só acompanhamento, porque o prato principal está para vir. demoraste quase mais quarenta minutos até chegares ao teu “spot” de trabalho, que falta? “Epá, bom dia! Bom dia! Bom dia!” “Então, pá já cá estás?” “Hoje temos que despachar isto, aquilo e aquela treta, vamos conseguir?”. Boa, agora sim começou a aventura a sério! Empenhas-te a sério, mas mal chega ao fim das primeiras duas horas de trabalho já foste com a moral à vida! Já estás meio dia atrasado e até ao final do dia ainda atrasas mais um e meio se for preciso, mas sem stress… As datas eram preliminares, já estávamos a contar com estas variáveis, tudo se vai compor na mesma.

Entretanto é hora de almoço, a malta foge e fica um deserto completo, eventualmente tens um ou outro colega que vão mais tarde ao tacho, mas regra geral às 13:00:00 já está tudo “a dar de frosques”. É a altura do dia em que as conversas são mais informais e mais inclusivas. Seja sobre filhos, ou sobre o futebol, a política ou aquele vídeo do facebook, todos falam e sabem o que se passa. Não podes falhar o café, caso contrário vais andar a arrastar-te o resto da tarde e perdes 35% de bateria em menos de uma hora que nem o smartphone que trazes no bolso e já tem a bateria mais que viciada. Nisto lembras-te que querias poder ir almoçar aqui e ali e evitar trazer o “tupperware” com o que fizeste a mais ao jantar, ou que queres mudar de smartphone para poderes ver o jornal da 1 enquanto comes, mas não se pode ter tudo… Com sorte vais ao café e ainda apanhas as “gordas” do jornal e vês um ou outro destaque do telejornal.

Voltas e metade já foi, falta metade, está quase! Mascas a tua chicla, aproveitas o sol que te bate de lado e ficas mole. Só queres que sejam 18:30 ou mais para poderes ir embora, isto se tiveres a sorte de ser hábil nas tarefas da tarde. O relógio rola entre uma música do youtube, alguém que te chama, o telefone que toca, uma sms que recebes, a discussão dos teus colegas, tudo faz passar o tempo, mas não o pára.

Despachaste 3 dos 13 objectivos até meio da tarde, não tá mau, podia ser pior se estivesse tudo mal (possivelmente metade terá de ser revisto no fim, mas isso não é agora…) já podes ir descansado aos teus 15 minutos de pausa tardia que acabas por aproximar o mais possível da hora de saída para te saber ainda melhor o usufruto dos últimos minutos do dia (de trabalho atenção, não te entusiasmes!). Voltas e já estás quase quase a dar-te por despachado quando cai a bomba atómica e tens de dar uma revisão geral no que já fizeste. Chovem mudanças e acabou-se o sonho, jantas às 21 ou 21 e 30 e já vais com sorte!

Nisto saíste eram quase horas de os autocarros acabarem, mas se esperares pacientemente 17 minutos ainda apanhas o último. Esquece, esperar não é para ti, vais a pé e ainda alivias o stress. Vês tudo o que é loja a fechar ou já fechado, como vês de manhã a abrir ou ainda fechadas, não muda muito, só muda o ponto de vista, mas para ti é a mesma coisa, só vives a cidade no extra-time, que é como quem diz, não vês nem metade do que ali se passa. Continuas a tua jornada e acabas por chegar a casa. Ainda nem chegaste à porta e já sacaste a chave, tal é a ansiedade de chegar ao teu canto, preparar o jantar e…

Preparas o jantar, sem te esquecer que tens de levar almoço no dia seguinte, pareces um maratonista do dia, mas numa daquelas maratonas de infinitos quilómetros que não acabam. Sentas-te e já nem apanhas nada de jeito no telejornal (again!), a tua sorte é a internet, mas já nem tens bem paciência para isso, só queres ver a tua série, divertir um pouco o teu rotineiro dia e acabar por adormecer e estatelar-te na cama…

Eis que é quando tens hipótese de parar!

E quando páras?

Quando páras sonhas, dormes e voltas ao início, acabas por não parar, porque não dá para parar o ciclo, tens que sonhar com o que queres melhorar, com o que tens para fazer, com o sentido de tudo o que te rodeia. A mente não pára e consequentemente tu também não!

E quando páras? Perguntas a ti mesmo.

Páro de quê?

Nem tu sabes o que é parar!